Sabia que a Fibrose Quística é uma doença genética hereditária e que afeta cerca de 400 pessoas em Portugal? Saiba como a alimentação pode ajudar.
A Fibrose Quística é uma doença genética hereditária rara que afeta cerca de 400 pessoas em Portugal e cerca de 75.000 em todo o mundo. Esta patologia é responsável pela acumulação e aumento da densidade de secreções de líquidos em vários tecidos, afetando principalmente os pulmões, fígado, intestino e pâncreas.
As secreções de líquidos mais espessos que o normal, levam ao aparecimento de infeções pulmonares recorrentes, à insuficiência pancreática, cirrose biliar e cálculos biliares, diminuindo a qualidade de vida e esperança média de vida.
Os indivíduos com fibrose quística apresentam necessidades energéticas superiores comparativamente com a população em geral, devido a um gasto energético em repouso superior durante exacerbações pulmonares e a inflamações e infeções recorrentes. A insuficiência pancreática associada é responsável por uma má digestão e consequente má absorção de gordura, proteína e outros nutrientes da dieta, desencadeando perdas energéticas, o que intensifica os défices nutricionais nestes indivíduos.
O défice nutricional pode resultar em:
– Atraso de crescimento e de ganho de peso;
– Atraso do período de puberdade;
– Redução de reservas de gordura e de massa isenta de gordura;
– Osteopenia e osteoporose;
– Comprometimento do estado imunológico;
– Diminuição de qualidade de vida e aumento de morbidade.

Como podemos intervir?
Atualmente as recomendações gerais para estes indivíduos passa por uma alimentação hipercalórica, rica em gorduras, com especial atenção aos ácidos gordos essenciais como o ácido linolénico (ómega 3) e o ácido linoleico (ómega 6), que se podem encontrar em défice e que levam a uma maior suscetibilidade a infeções pulmonares.
As vitaminas A, D, E e K, encontram-se maioritariamente em défice nos indivíduos com fibrose quística, pois a sua absorção fica comprometida devido a má digestão e má absorção associada à patologia.
Indivíduos diagnosticados com FQ apresentam perdas de sal através do suor de 2 a 5 vezes superior ao normal, sendo que uma perda excessiva de sal pode resultar em desidratação, hipocloridemia e hiponatremia. Torna-se assim importante a ingestão de alimentos ricos em sal e a suplementação de sódio nestes indivíduos. O zinco, o ferro e o cálcio também se encontram em défice na maioria dos casos, sendo importante a sua monitorização.

Conclusão
Sabe-se que existe uma associação entre o estado nutricional e a progressão desta patologia. As várias manifestações clínicas da Fibrose Quística são responsáveis por défices nutricionais que juntamente com mudanças metabólicas e incumprimento da dieta por parte do indivíduo, levam à presença de desnutrição, a falhas de crescimento e diminuição da qualidade de vida. Desta forma é essencial uma avaliação nutricional completa, que assegure uma intervenção e reabilitação oportuna.
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Carolina Pereira
Nutricionista Holmes Place Miraflores